
Greve de 2018
Quando ingressamos em uma Universidade pública, muitas vezes não pensamos com profundidade no tamanho do privilégio ao qual estamos tendo acesso. Muitas vezes também não pensamos com profundidade que é bem provável que não teremos uma estrutura de qualidade de mãos beijadas, e que serão necessários lutas e comprometimento para que tenhamos a Universidade que tanto almejamos ao passarmos no vestibular.
Falando em especial da nossa UEMG, existem ainda outras peculiaridades que muitas vezes dificultam nossa caminhada, que é o fato da UEMG ser uma Universidade recentemente estadualizada, em 2015, e MAIS: o curso de medicina também tem suas peculiaridades, diferentemente dos outros cursos que já existiam na unidade enquanto Universidade privada. O curso de Medicina é um bebê. Surgiu em 2016, novinho novinho.
Já em 2017, o curso de Medicina começou a enfrentar problemas relacionados à dificuldade de implantação do Curso, e os alunos traçaram estratégias que seguiam vias burocráticas para resolução dos problemas enfrentados: inexistência ainda de um laboratório de Tanopraxia, a falta de Coordenação e deficiências no estabelecimento de contratos com a Prefeitura, Santa Casa e SAMU para realização de aulas práticas, além dos problemas correspondentes a todos os demais cursos, como por exemplo, a ausência de Concurso Público para professores. A estratégia traçada correspondia à organização de uma comissão organizada pelo Centro Acadêmico, que acompanharia esses problemas, e manteria contato com a Diretoria e Reitoria para promover pressão de resolução.
No dia 16 de março de 2018, o NDE (Núcleo Docente Estruturante, necessário na implantação do Curso), em reunião com os alunos, esclareceu as dificuldades enfrentadas e foi esse o momento em que o curso de Medicina se viu sem outra opção além de ter de encarar de maneira mais intensa todas as realidades postas. Além dos problemas já enfrentados desde 2017, a falta de um laboratório de Tanopraxia gritava à medida que novas turmas entravam e mais uma vez perdemos uma Coordenação e toda a diretoria do curso. A situação se agravaria caso o Centro Acadêmico não tomasse as devidas providências.
A luta foi estruturada a partir da formação de Comissões para diferentes finalidades: Manifestação, Comunicação e Mídias e, por fim, a de Burocracia. A partir dessa estratégia, o movimento conquistou atenção dos outros Cursos da
Unidade, da Reitoria, Mídias sociais da cidade e até outras Universidades tomaram conhecimento do que estava acontecendo com o Curso e conquistar essa atenção.
Sabíamos que a luta não seria rápida, e após três semanas de paralisação, os resultados de todo esforço começaram a se mostrar. Dentro dessas três semanas, ocorreram a reestruturação do NDE e da eleição de um novo coordenador, pauta mais urgente da nossa luta. Foram feitas promessas a respeito dos contratos para as aulas práticas, e a próxima Gestão do Centro Acadêmico não descansou enquanto elas não estivessem garantidas. Em maio de 2019 foi finalmente inaugurado o Laboratório de Tanopraxia, o que fez com que todos os alunos tivessem aquela sensação de vitória, pelo menos daquela pauta tão importante para o curso de Medicina e todos os outros Cursos da Área da Saúde.
O Concurso Público ainda é um problema não resolvido na UEMG, a demanda é de toda Unidade de Passos, e das demais Unidades distribuídas por toda Minas Gerais, e parece seguir a passos lentos para que seja implantado.
Como vocês podem ver, estar em uma Universidade pública não é fácil. Precisamos sempre estar preparados para as instabilidades que podem surgir, mas o que tiramos de importante nisso tudo é que temos a capacidade de lutar pelo que nos é necessário. Aprendemos com maestria que a organização, a união, e a força de vontade têm o poder de reestruturação; têm o poder de mudança; e toda essa luta nos deixou energizados e ainda mais confiantes com a nossa capacidade de enfrentamento e potencial do curso de Medicina da nossa UEMG Passos.
Por Luciana Prates, Ex-Presidente CABAP (2017)